Sunday, November 4, 2012

Contratempo

O que se passa em minha mente não pode ser normal.
Às vezes acho que o que faço não é natural.
Paro pra pensar, pra entender o que me sucede dessa vez.
Como explicar?


Em 2006 surgiu o primeiro esboço. Imaginei um rock que expressasse ao mesmo tempo energia e insatisfação. Não seria uma crítica à sociedade, como em Interesses, mas algo mais introspectivo, que abordasse o campo pessoal. Posso dizer que, de certa forma, a Legião Urbana me serviu de norte ou referência durante a construção dos versos, tendo em vista a intensidade em algumas de suas letras (Há Tempos, Teatro dos Vampiros, Baader-Meinhof Blues).
 
A ideia do “wo-oh-oh-oh-oh” foi um dos primeiros detalhes que me ficaram mais claros na melodia, além das guitarras com saturação. Seria aquele tipo de sing along que incita uma multidão.
 
A letra ficou concluída em 2007, acredito, quando comecei a fazer as primeiras demos das canções em português. Soa como um monólogo de alguém em crise existencial, algo do tipo: “como definir o que é verdade e ilusão?”, "em que circunstâncias obtemos a razão?".
 
O primeiro arranjo que montei ficou muito aquém do resultado que eu esperava, até porque tinha pouca desenvoltura nos instrumentos e meu conhecimento em mixagem era muito pobre (não havia como fazer milagre). O segundo tornou a melodia mais leve, mais etérea eu diria, seguindo até a mesma sonoridade de Retrato, o que acabou não me convencendo por muito tempo.
 
O desejo de ouvir algo mais seco e agressivo permaneceu, e, mais tarde, quando da formação da banda e da gravação do álbum, depois de algumas tentativas, chegamos num resultado satisfatório. Luciano, orientado por Money for Nothing, criou riff e solo definitivos da canção, conferindo a ela o ímpeto que na letra se mostrava, mas que faltava ao instrumental.

Retrato

Composta em 2002, foi dedicada a um amor que não deu certo. É baseada em uma história real – a amada de fato partiu (foi morar em outra cidade). O que restou ao eu-lírico foi somente o “retrato”.
 
Em um festival de bandas realizado por um bar da cidade, Retrato concorreu na modalidade “música própria”, mas conseguiu apenas o quarto lugar. A banda Tio Ted, que executou a canção, venceu, no entanto, a modalidade “música cover” - a qual não me recordo agora. Quando ganharam o direito de se apresentar em uma noite de domingo, participei da performance tocando meu antigo Yamaha PSR-420. Foi no início de 2003. Estava perto dos meus 15 anos de idade.
 
A versão original possuía uma abordagem mais crua e agitada, e remetia um tanto às bandas que faziam sucesso na época, como Tihuana, CPM 22 e Detonautas RC.
 
As alterações que fiz foram tanto na letra como na melodia. Mantendo o tom de Lá Maior, substituí acordes como Mi Maior e Si Menor por Lá com Sétima e Nona, Ré com Sétima Aumentada e Fá com Sétima Aumentada, conferindo à canção uma sonoridade mais sofisticada e sublime. Quando o fiz, em 2009, procurei me aproximar um pouco de algo mais viajante com a presença de delays nas guitarras.
 
 
As alterações na letra se deram na estrofe após o primeiro refrão:
 
(Me perco nas lembranças), me confundo em pensamentos,
Mas eu reparo e reflito, não há nada como o tempo.
Estranho como tudo isso terminou, Mas eu sei que outro dia começou
E eu só procuro esquecer...
 
 
Creio que essa mudança tenha ocorrido antes da mudança no arranjo, já que acrescentei na letra um pouco da minha história. Sobrou para mim também o retrato de alguém que amei, um amor que não vingou. Nesse contexto, identifiquei-me muito com a música, já que ela conta um pouco de mim, assim como de meu irmão.

Metrópole

Em Sol Maior, de todas as canções em português gravadas, esta é provavelmente a mais antiga. Ela nasceu na garagem da casa de meu avô paterno em 2000 ou 2001, não me recordo bem. Estava eu e meu irmão sentados, ele com o violão. Ele possuía um dicionário de sinônimos e antônimos, que o ajudava a escolher as palavras – eclosão deve ter sido uma delas. Em sua forma original, estava incompleta, por ser curta demais.

Metrópole (versão original) – Rafael Lacerda

Sobre os trilhos, flores pálidas
O ar tão cinza, os olhos vermelhos.
Ruídos histéricos, passos imperfeitos.
A eclosão da cidade não para.

Posso até considerar que participei de sua criação, mais como um apoio ou acompanhamento, porém. Minha maior contribuição ocorreu mui posteriormente, em 2010. Houve várias tentativas minhas (fracassadas) de concluí-la, e imaginei vários arranjos.

Versos adicionais – Vinicius Lacerda

(Sobre os trilhos) desta estrada
De mãos vazias, à procura de paz.
Me sinto incompleto, perdido na multidão.
Aqui não há lugar pra descansar e me esquecer de tudo.

Cores frias...

Pelo título, a intenção seria a de discorrer sobre a rotina acelerada e estressante das grandes cidades e o paradoxo do isolamento em um aglomerado urbano (perdido na multidão). A palavra eclosão significa, a princípio, “a saída do animal do ovo ou do invólucro em que se realizou uma metamorfose”. Pode significar também “desenvolvimento ao nascer” e sua aplicação aqui pode ser entendida como em sentido figurado.